A CONTRADIÇÃO EM PROCESSO E SEUS LIMITES: A CRISE NA ERA DO CAPITALISMO SENIL
Quando Marx, no ano de 1848, em parceria com Engels,
escreve o Manifesto Comunista, seu conhecimento da Economia Política (EP) ainda
estava longe do que viria a ser dez anos mais tarde, quando redige, sob a forma
de apontamentos, os Grundrisse (1857-1858), os quais seriam a base para a redação
de O Capital. Mesmo sem domínio profundo da EP, isto não o impediu de intuir a
dialética do desenvolvimento e destruição das forças produtivas ao longo da
evolução do capitalismo. Compreendeu muito bem que [...] a sociedade burguesa
moderna, que conjurou gigantescos meios de produção e de troca, assemelha-se ao
feiticeiro que já não pode controlar os poderes infernais que invocou [...].
Alguns indicadores dão prova dessa fase senil do
capitalismo. Dentre eles destaquem-se:
(4) Outro indicador de
senilidade do capitalismo é revelado pela crise energética em que mergulhou o
sistema. Atualmente mais de 80% da matriz energética do mundo é composta de
recursos naturais não renováveis (petróleo, gás natural e carvão mineral). Bernstein
(2009) lembra que
[...] é importante não que
esquecer que o capitalismo industrial pôde avançar desde o inal do século XVIII
porque conseguiu se tornar independente dos recursos energéticos renováveis,
que o submetiam a seus ritmos de reprodução, e impor sua lógica aos recursos
não renováveis: o carvão, seguido mais adiante pelo petróleo. Essa proeza
depredadora (que nos levou ao desastre atual) foi o pilar decisivo da
construção de seu sistema tecnológico articulador de uma complexa e evolutiva
rede de procedimentos produtivos, produtos, matérias primas, hábitos de
consumo, etc., ligando o desenvolvimento científico e as estruturas de poder.
(5) Crise ecológica, que tem como principal causa a matriz energética
extremamente poluente. Não é fácil enfrentar esse problema. A maior diiculdade é
o capital inanceiro. Com efeito, sem incluir as empresas estatais, as reservas
de combustíveis fosseis estão nas mãos de 200 empresas. Tais reservas, airma
Nadal (2013),
[...] já estão anotadas em
seus balanços com um enorme valor monetário. Uma avaliação destas empresas
admite que essas reservas serão efetivamente realizadas, o que signiica que
serão extraídas e utilizadas.
Do ponto de vista contábil,
ninguém está preocupado se a utilização dessas reservas é suiciente para
ultrapassar o perigoso patamar dos graus centígrados. A mudança climática não é
um conceito contábil.
(6) Finalmente, vem a crise urbana como um dos mais complexos
indicador de senilidade do capitalismo. Não é preciso ser especialista no
assunto para saber que as cidades ocupam destaque central da mídia, com seus desastres
decorrentes de
[...] enchentes,
desmoronamentos com mortes, congestionamentos, crescimento exponencial da
população moradora de favelas (ininterruptamente nos últimos 30 anos), aumento
da segregação e da dispersão urbana, desmatamentos, ocupação de dunas, mangues,
APPs (Áreas de Proteção Permanente) APMs (Áreas de Proteção dos Mananciais), poluição
do ar, das praias, córregos, rios, lagos e mananciais de água, impermeabilização
do solo (tamponamento de córregos e abertura de avenidas em fundo de vales),
ilhas de calor... e mais ainda: aumento da violência, do crime organizado em
torno do consumo de drogas, do stress, da depressão, do individualismo, da
competição. As cidades fornecem destaques diários para a mídia escrita, falada
e televisionada.
Francisco José Soares Teixeira
M392
Marx: crise e transição: contribuições para o debate hoje / Jair Pinheiro
(org.). p. 93 a 107 – Marília : Oficina Universitária; São Paulo : Cultura
Acadêmica, 2014.
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